Livro O rei e o baião, do pesquisador Bené Fonteles, destaca modernidade do artista que ainda surpreende
Por: Michelle de Assumpção
No dia em que completaria 98 anos, Luiz Gonzaga ganhará muitos presentes. Um deles adquire grande valor pelo conteúdo e raridade, desde sua publicação: não será vendido em livrarias. Seus três mil exemplares serão doados a bibliotecas, fundações, instituções culturais e pessoas, incluindo músicos, que conviveram com o Rei do Baião. Também serão distribuídos entre os primeiros convidados que forem neste 13 de dezembro, às 19h, à Torre Malakoff, onde será lançada a publicação. Haverá apresentação do cantor Nonato Luiz e do violonista Cláudio Almeida.
O rei e o baião - álbum de 377 páginas, organizado pelo pesquisador Bené Fonteles - foi feito a partir de uma pesquisa que levou 5 anos. É um livro para os que amam Luiz Gonzaga e o Sertão que ele representa; um caminho para conhecer melhor o artista e tudo o que foi produzido sobre ele. O lançamento no Recife ocorre simultaneamente a eventos em Caruaru, Campina Grande e Exu.
´O livro é uma análise da obra doGonzaga, de sua importância. Ele é um dos cinco ou seis pilares da música brasileira. O que havia de publicação eram livros frutos de teses e duas biografias. Faltava algo que condensasse tudo`, explica o organizador. Fonteles levantou um impecável acervo iconográfico de Luiz Gonzaga.
São fotos em ocasiões diversas, incluindo um ensaio de 1954, no estúdio da ABA Filmes, em Fortaleza, shows públicos, programas de TV, ao lado dos fãs, com os músicos, políticos, a família e outros artistas. O acervo também resgata publicidades feitas por Gonzaga, de bebidas, loterias e tantas marcas. A pesquisa de Bené é enriquecida por um apanhado de todas as capas de LPs gravados, do fim de 1950 até 1989. Pelas imagens, percebem-se as transformações por que passa sua figura simbólica.
Bené Fonteles também resenhou todos os discos póstumos e todas as publicações lançadas sobre Luiz Gonzaga. ´Queria uma homenagem completa`, diz o pesquisador, que também convidou outros estudiosos para interpretar o fenômeno do surgimento do baião e seu criador. Antônio Risério discorre sobre o Gonzaga representante da massa cabocla sertaneja. Elba Braga Ramalho (não é a cantora) enfoca o repertório do músico, as peculiaridades de ritmo, melodia e entonação, ´que deram ao baião de Gonzaga as características espontâneas do canto popular`.
O pesquisador Gilmar de Carvalho apresenta a música de Gonzaga como resultado da cultura rural que inclui cordéis, cantorias, rezas, folguedos etc. Sulamita Vieira reconstitui a carreira do Rei e o modo como o baião foi se espalhando, a partir do trabalho de Gonzaga e Humberto Teixeira no Rio de Janeiro. O antropólogo Hermano Vianna analisa a modernidade de Gonzaga, ´seu uso consciente e inovador da instrumentação e do figurino, e seu papel na criação e consolidação de uma identidade nordestina`. No texto de apresentação, Gilberto Gil destaca a importância da publicação, que, na sua análise, tem como maior mérito a paisagem iconográfica da presença histórica de Luiz Gonzaga junto ao seu povo.
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