Cantora mantém o estilo dramático e esfuziante que se tornou sua marca registrada
Walter Sebastião - Estado de Minas
Publicação: 04/02/2013 13:02 Atualização: 04/02/2013 14:00
É de tirar o chapéu: uma das grandes damas da música popular brasileira, a paraibana Elba Ramalho, de 61 anos, com bagagem de 30 discos preciosos lançados entre 1979 e 2010, manda para as vitrines o notável Vambora lá dançar. São 14 canções, entre elas Onde Deus possa me ouvir, do mineiro Vander Lee, todas defendidas com garra e expressividade tocantes. Telúrica, dramática, romântica e sempre festeira, Elba está melhor do que nunca. No comando, vem o forró – movido por acompanhamento instrumental de altíssima qualidade, esparramando-se generosamente em singular folk rock, baladas, quase serestas e flertando com o samba de roda. Arte popular e universal.
Com satisfação, Elba relembra a boa repercussão de seu recente show no Recife, na 8ª Bienal da União Nacional dos Estudantes (UNE), quando foi saudada como “furacão”, dona de arte potente. “Já estou com 30 anos de carreira e vejo rapazes deslumbrados comigo, como se tivessem me descoberto agora”, observa ela, surpresa. Com alguma timidez, reconhece: de fato, é uma cantora que gosta de performances de alta voltagem. “Música tem seus mistérios. Chega para alguns como brisa, vento. Para outros é ventania, vento forte. Sou ventania. É a minha alma”, garante.
Vambora lá dançar é forró com ousadia, afirma Elba Ramalho, deixando clara a busca da síntese entre arte popular e arrojo estético. “São muitas canções, com arranjos elaborados, instrumentistas tocando muito e fazendo música até difícil de cantar. Mas é essa mesmo a nossa proposta”, garante. Está no disco o espírito de sempre: um convite à festa, à alegria e à boa música. Assim a artista explica a garra, quase juvenil, com que defende cada uma das faixas de seu 31º álbum: “Faço cada show, cada disco, como se fosse o primeiro. Não perdi a vontade de viver e de cantar”.
A artista paraibana se define como intérprete, sempre em busca da emoção. Sem medo de improvisar, ela admite: mesmo com pleno domínio do canto, não é uma cantora técnica. “Piso no palco com tudo”, resume Elba. O momento que está vivendo ganha definição em apenas uma palavra: maturidade. “Tenho força na voz e sinto que ela nada perdeu com o tempo. O que fiz foi lapidá-la, e agora posso brincar com os meus recursos. Gravo compositores que me tocam o coração pela verve e alegria ou pela despretensão, simplicidade”, observa. A veterana faz questão de chamar a atenção para a cantora carioca Monique Kessous: “É boa compositora”. Veio de Frevo meio envergonhado, composição de Monique, o verso que dá nome ao CD.
Elba Ramalho não renega nenhum de seus trabalhos, ainda que considere que alguns discos poderiam ser mais benfeitos. Entre os preferidos cita Solar (1999), Baioque (1997), Leão do Norte (1996) e Balaio de amor (2009). “Sou a dona da banca, a palavra definitiva é minha, mas ouço sugestões. Inclusive porque cantando as músicas observo como elas funcionam”, conta. Isso significa que estéticas muito contemporâneas, que universalizam o regional – prática observada em todo o mundo –, têm na paraibana não só uma pioneira, mas artífice de primeira. E, talvez, a melhor porta-estandarte.
Fala, Elba
Obra
“Desde o primeiro disco, o que estou dizendo é que tenho personalidade, verdade, história, identidade. Quero que o povo cante e também mostrar que o Brasil tem ótimos compositores. Meu instrumento é a voz, que lapidei. Continuo com voz enorme, mas com cor, textura. Posso fazer agudos, médios e graves. Brinco com tudo isso.”
Brasil
“Nossa cultura é híbrida, influência de várias partes do mundo. Somos povo de alma colorida, leve, carinhosa, alegre e receptiva. Falta amadurecer a alma, além de correção política, mais justiça, menos violência, proteger a vida – hoje, para mim, o mais importante. E despertar a consciência para coisas mais sagradas e profundas.”
Nordeste
“É a ponta do iceberg. Sem ele, o Brasil não se equilibraria. O Nordeste pode ser o dedão do pé deste corpo que é o Brasil. Traz identidade, persistência, cultura alegre e festiva. É também triste, como mostra Luiz Gonzaga. Então, consegue misturar alegria e tristeza. Esse poço de água boa alimenta e fomenta o Brasil.”
As mestras
“Elizeth Cardoso, Marinês, Ella Fitzgerald, Janis Joplin, Maria Bethânia, Gal Costa, Elis Regina, Dalva de Oliveira. Elas têm personalidade e qualidade vocal. Umas com mais técnica, outras menos – todas me ensinaram a cantar. Mas não ficava só ouvindo. Pegava as músicas e fazia do meu jeito, mesmo errando.”
Música
“É universal, força divina, transcendental, ninguém delimita o seu território. Com as mesmas claves se faz a música aqui, no Havaí ou em qualquer lugar. É a minha terapia, algo tão amplo que nem dá para mensurar. Dessa fonte jorra água o tempo todo.”
Com satisfação, Elba relembra a boa repercussão de seu recente show no Recife, na 8ª Bienal da União Nacional dos Estudantes (UNE), quando foi saudada como “furacão”, dona de arte potente. “Já estou com 30 anos de carreira e vejo rapazes deslumbrados comigo, como se tivessem me descoberto agora”, observa ela, surpresa. Com alguma timidez, reconhece: de fato, é uma cantora que gosta de performances de alta voltagem. “Música tem seus mistérios. Chega para alguns como brisa, vento. Para outros é ventania, vento forte. Sou ventania. É a minha alma”, garante.
Vambora lá dançar é forró com ousadia, afirma Elba Ramalho, deixando clara a busca da síntese entre arte popular e arrojo estético. “São muitas canções, com arranjos elaborados, instrumentistas tocando muito e fazendo música até difícil de cantar. Mas é essa mesmo a nossa proposta”, garante. Está no disco o espírito de sempre: um convite à festa, à alegria e à boa música. Assim a artista explica a garra, quase juvenil, com que defende cada uma das faixas de seu 31º álbum: “Faço cada show, cada disco, como se fosse o primeiro. Não perdi a vontade de viver e de cantar”.
A artista paraibana se define como intérprete, sempre em busca da emoção. Sem medo de improvisar, ela admite: mesmo com pleno domínio do canto, não é uma cantora técnica. “Piso no palco com tudo”, resume Elba. O momento que está vivendo ganha definição em apenas uma palavra: maturidade. “Tenho força na voz e sinto que ela nada perdeu com o tempo. O que fiz foi lapidá-la, e agora posso brincar com os meus recursos. Gravo compositores que me tocam o coração pela verve e alegria ou pela despretensão, simplicidade”, observa. A veterana faz questão de chamar a atenção para a cantora carioca Monique Kessous: “É boa compositora”. Veio de Frevo meio envergonhado, composição de Monique, o verso que dá nome ao CD.
Elba Ramalho não renega nenhum de seus trabalhos, ainda que considere que alguns discos poderiam ser mais benfeitos. Entre os preferidos cita Solar (1999), Baioque (1997), Leão do Norte (1996) e Balaio de amor (2009). “Sou a dona da banca, a palavra definitiva é minha, mas ouço sugestões. Inclusive porque cantando as músicas observo como elas funcionam”, conta. Isso significa que estéticas muito contemporâneas, que universalizam o regional – prática observada em todo o mundo –, têm na paraibana não só uma pioneira, mas artífice de primeira. E, talvez, a melhor porta-estandarte.
Fala, Elba
Obra
“Desde o primeiro disco, o que estou dizendo é que tenho personalidade, verdade, história, identidade. Quero que o povo cante e também mostrar que o Brasil tem ótimos compositores. Meu instrumento é a voz, que lapidei. Continuo com voz enorme, mas com cor, textura. Posso fazer agudos, médios e graves. Brinco com tudo isso.”
Brasil
“Nossa cultura é híbrida, influência de várias partes do mundo. Somos povo de alma colorida, leve, carinhosa, alegre e receptiva. Falta amadurecer a alma, além de correção política, mais justiça, menos violência, proteger a vida – hoje, para mim, o mais importante. E despertar a consciência para coisas mais sagradas e profundas.”
Nordeste
“É a ponta do iceberg. Sem ele, o Brasil não se equilibraria. O Nordeste pode ser o dedão do pé deste corpo que é o Brasil. Traz identidade, persistência, cultura alegre e festiva. É também triste, como mostra Luiz Gonzaga. Então, consegue misturar alegria e tristeza. Esse poço de água boa alimenta e fomenta o Brasil.”
As mestras
“Elizeth Cardoso, Marinês, Ella Fitzgerald, Janis Joplin, Maria Bethânia, Gal Costa, Elis Regina, Dalva de Oliveira. Elas têm personalidade e qualidade vocal. Umas com mais técnica, outras menos – todas me ensinaram a cantar. Mas não ficava só ouvindo. Pegava as músicas e fazia do meu jeito, mesmo errando.”
Música
“É universal, força divina, transcendental, ninguém delimita o seu território. Com as mesmas claves se faz a música aqui, no Havaí ou em qualquer lugar. É a minha terapia, algo tão amplo que nem dá para mensurar. Dessa fonte jorra água o tempo todo.”
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