Os recentes casos de maus-tratos a jumentos, com registros de centenas de mortes na Bahia, levaram o forrozeiro baiano Adelmário Coelho a lançar uma música de protesto. Ele é um dos que ficou chocado com a crueldade contra os animais.
O título da canção é bem direto: “Burro é quem mata jumento”. Além de protestar, o músico reverencia o animal considerado "sagrado" por muitos nordestinos e que já foi homenageado também pelo forrozeiro Luís Gonzaga em “O jumento é nosso irmão”.
O forrozeiro se refere ao flagrante de maus-tratos a jumentos em uma fazenda em Canudos, no sertão da Bahia, na quinta-feira passada. No local, autoridades ambientais e sanitárias encontraram mais 200 animais mortos e cerca de 800 desnutridos.
O forrozeiro destacou que não é um “radical” da defesa dos direitos dos animais, “mas uma coisa como essa tem de falar, pois se Luís Gonzaga estivesse vivo, seria uma voz marcante contra isso”.
A ideia da música, conta Adelmário, veio quando foram publicadas reportagens sobre os casos de maus-tratos em Itapetinga. A letra e parte da melodia foram criadas por um parceiro do forrozeiro, Júnior Vieira, que mora em Recife.
“A provocação para ele fazer foi minha, e falei com ele porque é muito comprometido com a cultura do Nordeste, e não podemos ficar sem nossos jumentos. Nordeste sem jumento é como Austrália sem canguru”, comparou o cantor, segundo qual a música terá também um clipe, já em fase de finalização.
Para Adelmário, “a sociedade tem que lutar para que a decisão judicial possa proibir para sempre os abates”. O mérito da decisão ainda será julgado na Justiça Federal da Bahia – por enquanto, a decisão que proibiu os abates foi liminar (temporária).
“Está na hora de dar um freio nos maus-tratos. Muita gente bebeu água, carregou rapadura no lombo de um jegue. Vi isso em Curaçá [Norte da Bahia], no distrito de Barro Vermelho, onde nasci. O jumento era nossa força de trabalho”, disse Aldemário.
BURRO É QUEM MATA JUMENTO
Santo Deus, por quê será
Que o homem, tão sabido...
Cresce o olho da ganância,
Quer ver tudo destruído,
E em nome do dinheiro
Deixa o teu nome esquecido!?
Senhor, só vim te pedir:
Me livrai da extinção!
Sou apenas um jumento
Que sirvo a qualquer cristão,
E de cristo eu sei que sou
Animal de estimação!
Mesmo em meio ao progresso
Faço um trabalho bonito,
Respeito muito meu dono,
Minha arma é o cambito,
E carreguei Jesus Cristo
De Belém para o Egito!
Meu Jesus de Nazaré,
Não me deixes levar fim!
Por que será, meu senhor
Que quem é bom, é ruim!?
Parece até que Herodes
Tá se vingando de mim!
Não uso gasolina, respeito meu amo;
Trabalho com fome, mas nunca reclamo!
Dou sangue e suor, jogado ao relento...
Eu acho que burro é quem mata jumento!
Autor: Júnior Vieira.
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