sexta-feira, 10 de julho de 2020

Bia Villa-Chan estreia como compositora em single com Maciel Melo

Bia Villa-Chan apresenta pela primeira vez ao público a compositora no single “O jeito de lá de casa”, em parceria com o cantor e compositor Maciel Melo. Os dois amigos compuseram o xote durante a quarentena, através de mensagens e ligações para conversar sobre os versos e a melodia. As reflexões provocadas pela crise sanitária atual se refletem em versos como “Eu vivo procurando por palavras/ Às vezes acho, às vezes não/ Eu vivo procurando por certezas/ Às vezes acho, às vezes não”.

Maciel foi uma surpresa de quarentena, define Bia. “Desenvolver essa parceria foi, primeiro, encarada com muita responsabilidade por tudo que ele representa para a cultura nordestina e ao mesmo tempo uma oportunidade de amadurecimento profissional. Interagir musicalmente com Maciel é um grande aprendizado”, comemora. 

O clipe, dirigido por Thamyres Oliveira, e a canção está no YouTube e nas plataformas digitais. “A primeira vez que eu vi Bia tocando, achei uma maneira diferente de tocar, ela é uma grande instrumentista e canta bem. Tem coisas que não têm explicação, acontecem. Quando ela musicou a letra, achei muito bacana. Eu acho que parceria é isso, vem, vai fluindo”, conta Maciel. O artista de Iguaracy está cumprindo o distanciamento social em Petrolina, no Sertão pernambucano, onde gravou a voz para o single.

No clima de São João, importante festa do calendário nordestino afetada diretamente pela pandemia, “O jeito de lá de casa” conta com a voz dos dois e tem arranjo de Bia com Romero Medeiros, responsável ainda pela direção musical e teclados. Renato Bandeira (guitarra semi-acústica), Hélio Silva (contrabaixo), Gilberto Bala (percussão) completam o time de instrumentistas. As imagens foram gravadas na casa da mãe de Bia Villa-Chan, com uma equipe de apenas duas pessoas. 

A cantora, multi-instrumentista e compositora já está com outros projetos autorais na agulha e promete muitas novidades para os próximos meses. “A quarentena me forçou a desacelerar e me possibilitou trabalhar composições próprias, que já existiam, mas precisavam de dedicação. Acho que esse é um momento em que me encontro mais madura, com um trabalho consistente, com uma identidade sonora bem definida. Quero contribuir com a minha assinatura, minha verdade”, comemora.

Devido ao período de isolamento social, cujas restrições para o setor cultural devem perdurar mais que em outros segmentos, a pernambucana armou um estúdio em casa e tem se dedicado ao estudo dos instrumentos e ao aprimoramento das técnicas de composição.

Apesar das dificuldades impostas pela pandemia da Covid-19 e pela necessidade de ficar em casa para conter o avanço do novo coronavírus, ela quer dar continuidade aos projetos de 2020, ano que começou especial para Bia. Pouco depois de lançar o segundo EP, GiraSons, ela divulgou o clipe da faixa Rumo do céu e do mar e uma versão para o clássico Lágrimas de folião, de Levino Ferreira. 

Durante o carnaval, colecionou elogios do público e da imprensa no decorrer da maratona que envolveu o Recife, Olinda, Salvador e São Paulo. A programação contemplou o Galo da Madrugada - na capital Pernambucana e em São Paulo -, além do trajeto Barra-Ondina, ao lado de Armandinho Macêdo, filho de Osmar Macêdo, um dos inventores do trio elétrico, show no Palco Fortim e ainda no Polo Brasília Teimosa.

 

BIA VILLA-CHAN

Quem testemunha a destreza sobre o palco, a intimidade com o bandolim, a voz potente a desfiar cada letra nem imagina os caminhos tortuosos percorridos pela pernambucana Bia Villa-Chan para abraçar de vez a arte. Uma trajetória marcada por perdas, superação e a difícil escolha de deixar para trás a construção profissional de uma vida inteira. Uma rota trilhada pelo sonho de fazer da música companhia e destino, prazer e realização, reforçada pela parceria com nomes ilustres da seara sonora brasileira, como Alceu Valença, pela participação em eventos grandiosos da festividade popular, pelos prêmios concedidos pelo desempenho artístico.

O sucesso vivenciado, hoje, ecoa uma relação com a música iniciada aos 6 anos de idade, quando Bia Villa-Chan aprendeu com o avô Heitor Villa-Chan, um dos criadores do bloco Pirilampos de Tejipió (citado na clássica canção Valores do passado, de Edgar Morais). Autodidata, ela passou a dominar com naturalidade instrumentos como a guitarra, o contrabaixo, a bateria, o clarinete, o sax e o piano. Mas a carreira seguiu outro rumo: Bia enveredou pelo campo da saúde e estudou odontologia. Fez bacharelado pela UFPE, tornou-se mestre em engenharia biomédica na área de física nuclear, entrou no doutorado em ciências biológicas no campo da genética vegetal até topar com as artimanhas da vida: descobriu um câncer na tireoide, em 2017, e, após enfrentar a doença, decidiu se reencontrar de forma definitiva e exclusiva com a música. 

A decisão passou por percalços. Pesaram a memória da irmã, falecida aos 15 anos vítima de um câncer, a dificuldade de contar aos pais a manifestação de uma doença semelhante e a necessidade de repensar a vida depois de ficar diante do drama de saúde. Do processo traumático, surgiu a carreira da cantora pronta para fazer da voz e do instrumento uma forma de reverberar a cultura pernambucana, nordestina e brasileira através da diversidade do som e da música.

Os atributos artísticos são reconhecidos e valorizados por artistas consagrados como o conterrâneo Alceu Valença. A carreira em plena ascensão tem se caracterizado por combinar a valorização da cultura do estado com a renovação sonora a partir da releitura criativa dos clássicos da música regional, atributos ressignificados como passaporte artístico para a participação em festivais prestigiados, eventos carnavalescos, premiações regionais e parcerias com músicos renomados.

A curta, mas vigorosa, trajetória de pouco mais de dois anos como artista profissional já amealhou o prêmio de Melhor Cantora de MPB, na 10ª edição do Prêmio da Música de Pernambuco, o Troféu Gonzagão, considerado o “Oscar da música nordestina”, e legou ao público os EPs Pedacinho de Mim e GiraSons, lançado no fim de 2019. 

Mulher e instrumentista, Bia Villa-Chan também faz do próprio caminho um gesto de incentivo à atuação artística feminina no virtuosismo e na seara da música de tradição regional, elementos com poder de criar identidade cultural e ainda associados, majoritariamente, a protagonistas masculinos. Não raro, a cantora sobe ao palco vestida com roupas onde está inscrita a mensagem “Toque como uma mulher”, expressão combativa ao machismo e estímulo à inserção musical das mulheres.

A habilidade com o bandolim transformou Bia, não raras vezes, em “sensação digital” da música pernambucana com performances cujos registros viralizaram na internet e nas redes sociais - varreu a web a apresentação ao lado do Maestro Spok, símbolo do frevo, durante os preparativos para o carnaval de 2019 e se tornou bastante popular um vídeo com a execução de Feira de Mangaio capitaneada pela cantora no bandolim.

 


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