Seis novos Patrimônios Vivos foram eleitos nesta sexta-feira (4), por meio do XV Concurso do Registro do Patrimônio Vivo de Pernambuco. São eles: Mestra Ana Lúcia (Coco-Olinda); Clube Carnavalesco Misto Elefante de Olinda (Frevo-Olinda); Grupo Cultural e Religioso Guardiões(ãs) de São Gonçalo de Itacuruba (Dança de São Gonçalo-Itacuruba); J. Michiles (Frevo-Olinda); As Pretinhas do Congo (Cultura Negra-Goiana) e Dona Menininha do Alfenim (Doceira-Agrestina).
A eleição de mestres e mestras e dos grupos aconteceu durante uma reunião virtual do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC), com a presença do secretário de Cultura, Gilberto Freyre Neto, do presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Marcelo Canuto, além de 16 conselhereiros do CEPPC. Com os novos eleitos, Pernambuco agora conta com 69 Patrimônios Vivos titulados.
“A escolha dos novos Patrimônios Vivos de Pernambuco reforça ainda mais o conjunto de ações de valorização dos nossos mestres, mestras e grupos tradicionais e detentores do saber, que se constituem um dos principais eixos da política pública de cultura do nosso Estado”, coloca o presidente da Fundarpe, Marcelo Canuto, ressaltando que nesta edição existem vencedores representantes da Região Metropolitana do Recife, Zona da Mata, Agreste e Sertão.
Marcelo Canuto também destaca o papel fundamental do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural, que auxiliou no processo de divulgação do prêmio “fazendo com que, mesmo tendo alterado o seu calendário, por conta da pandemia, o Registro do Patrimônio Vivo tenha atraído um número recorde de inscrições de candidaturas”.
A eleição dos Patrimônios Vivos é composta por várias etapas. Após o período de inscrição, os candidatos passam pela fase de análise documental. Uma vez habilitados, os nome dos inscritos seguem para a Comissão de Análise, que analisa se as candidaturas cumprem os critérios estabelecidos na Lei 12.196/2002 (Registro do Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco), como relevância cultural e transmissão de saberes. Nessa edição, 99 candidatos concorreram e tiveram as suas candidaturas analisadas pelo conselho.
Os escolhidos passam a receber o diploma do Governo de Pernambuco com o título de “Patrimônios Vivos de Pernambuco” além de uma bolsa mensal vitalícia no valor de R$ 1.600,00 (no caso de pessoa física) e R$ 3.200,00 (quando for grupo, entidade, agremiação ou associação).
O Registro do Patrimônio Vivo de Pernambuco tem por finalidade o apoio financeiro e a preservação dos processos de criação e divulgação de técnicas, modos de fazer e saberes das culturas tradicional ou popular pernambucanas mediante atividades, ações e projetos desenvolvidos por pessoas físicas ou jurídicas de natureza cultural, sem fins lucrativos, residentes ou domiciliados e com atuação no Estado há mais de 20 anos, contados da data do pedido de inscrição.
Confira um breve histórico dos eleitos:
Mestra Ana Lúcia (Olinda) - Com 76 anos de idade dos quais mais de 70 são dedicados à cultura popular, sempre foi das artes e cresceu ouvindo seu pai cantarolar afinado enquanto trabalhava. Ainda menina se envolveu com o samba de coco e desde então fez desse saber sua vida. Ainda por herança, tornou-se mestra do Pastoril Estrela de Belém, Foi mestra do grupo de coco do Amaro Branco e posteriormente fundou o grupo de coco Raízes do Coco. A Mestra participa de vários eventos musicais e de formação. Realiza atividades o ano todo, a partir de sua casa, desde oficinas ensaios e apresentações.
Clube Carnavalesco Misto Elefante de Olinda (Olinda) – Em 1950, no Carnaval de Olinda, um grupo de jovens, teve a ideia de pegar um biscuit que decorava a geladeira, em formato de elefante, e sair com ele pelas ruas. Encontraram pelo caminho a Pitombeira dos Quatro Cantos logo em seguida. No ano posterior saíram pelas ruas novamente, usando camisas do time do Bonfim, brancas e vermelhas. Até este momento não havia intenção de se criar um bloco. O mesmo veio a ser criado de fato em 12 de fevereiro de 1952. Seu hino, “Olinda nº 2″, foi composto por Claudio Nigro e Clóvis Pereira; é uma das mais executadas no carnaval de Pernambuco e é considerado um hino de Olinda. Ela chegou a ser oferecida à Pitombeira, que a recusou. Três anos depois, ao ser criado o bloco, foi oferecida ao Elefante, que aceitou após Cláudio Nigro incluir a palavra “elefante”.
Grupo Cultural e Religioso Guardiões (ãs) de São Gonçalo de Itacuruba (Itacuruba) - O grupo de São Gonçalo de Itacuruba representa para a microrregião de ltacuruba uma manifestação de fé, cultura e resistência as maiores adversidades que um município e seu povo passaram através dos tempos. A existência desta manifestação remota a mais de cem anos, quando a atual ltacuruba era no distrito do município de Floresta e posteriormente de Belém do São Francisco. Por isso a forte ligação entre os dançadores(as) e tocadores(as) nas rodas de São Gonçalo, pois estes tinham e tem laços de família e até moradia nestes municípios.
Dona Menininha do Alfenim (Agrestina) - O alfenim que era vendido na Feira de Caruaru, hoje Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, era advindo de Agrestina, que é detentora da tradição centenária de produção de Alfenim. O açúcar com alma de gente, como bem definiu em poesia o autor Claribalte Passos, era moldado pelas mãos habilidosas da mãe de Cazuza, Maria Belarmina, conhecida como Dona Menininha do Alfenim. Hoje, com 93 anos de idade.
J. Michiles (Olinda) - José Michiles da Silva, ou simplesmente, J. Michiles nasceu no Recife em 4 de fevereiro de 1943. Completou, portanto, no carnaval de 2020, 77 anos de idade. Pelo menos cinquenta deles foram dedicados à música e ao ensino. Compositor pernambucano consagrado na área do frevo, pode-se dizer que ele é criador de uma escola que traz como marcas indeléveis a leveza dos temas, a cadência bem mareada, o sincopado das frases, e a simplicidade musical como regra básica. “Difícil é fazer o fácil”, costuma dizer o compositor. Deve ser mesmo, pois não há hoje em Pernambuco compositor de frevos canção que se destaque como ele. “Depois de Capiba, é o compositor mais executado no Carnaval”, nas palavras do maestro Ademir Araújo. Em 2019, Jota Michiles teve sua biografia contada pelo escritor e pesquisador Carlos Eduardo Amaral, no livro Jota Michiles — Recife Manhã de Sol, lançada pela CEPE Editora. Apesar de suas composições serem mais conhecidas na voz de Alceu Valença, Michiles emprestou suas canções a artistas como Fafá de Belém (Fazendo Fumaça, Forró Fogoso e Negue), Dominguinhos (Estrela Gonzaga), Amelinha (Recife Nagô), Marrom Brasileiro (Nação Brasileira), André Rio (Queimando a Massa e Babado da Morena), Claudionor Germano (Queimando a Massa), Banda Pinguim (Queimando a Massa), Versão Brasileira (Perna Pra Que Te Quero), Nádia Maia (Espelho Doido), Novinho da Paraíba (Forró Fogoso) e Coral do Bloco da Saudade (Sonhos de Pierrô, Obrigado Criança e Bloco da Saudade), entre outros.
As Pretinhas do Congo (Goiana) – Fundado no ano de 1936, na comunidade ribeirinha do Baldo do Rio, antigo porto da cidade de Goiana, a Nação Africana Pretinhas do Congo de Goiana (no tempo “Pretinha do Congo”) é uma brincadeira popular originaria da cidade de Goiana de tradição afrodescendente, qual através de suas evoluções, da teatralidade, das danças e sua singular musicalidade, representa a vida cotidiana dos escravos negros trabalhadores dos engenhos da Zona da Mata Norte de Pernambuco. A Nação Africana Pretinha do Congo é uma singularíssima representação da cultura negra no estado de Pernambuco, símbolo da resistência das tradições e culturas afrodescendentes brasileiras. Apenas se tem conhecimento da existência de dias Pretinhas do Congo, ambas da cidade de Goiana-PE, uma sediada no litoral da cidade, fundada no ano de 1930, e a outra na área na comunidade de pescadores do Baldo do Rio, incluída na área urbana do município.
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